sexta-feira, 21 de outubro de 2016
O Espelho
Como é fácil sermos vítimas. Como é mais cômodo nos colocarmos no lugar do atingido, do prejudicado, do traído e não assumirmos a nossa parcela de culpa.
É tão simples dizermos: sou assim pelo que fizeram comigo, sou assado porque fulano me fez ficar assim. Não confio em nínguém porque todos me trairam, cuspo na cara de homofóbico porque ele me chamou de viado. Já diziam os deterministas de plantão. O homem é o produto do meio e um outro filósofo que dizia: o homem é o lobo do homem. Mas e Eu? E quando digo eu, é o indivíduo, os seres humanos de maneira geral. Algumas doutrinas religiosas dizem que nascemos simples e ignorantes, fadados à evolução e se é assim, quer dizer que o nosso destino é crescer, melhorar, nos aprimorar a cada dia, ainda temos a nosso favor o livre arbítrio, ou seja, além de termos a capacidade inata de nos aprimorarmos a cada dia ainda temos o poder de discernir entre o que é certo e o que é errado e a possibilidade de escolher entre um e outro e muitas vezes ainda escolhemos o caminho errado, simplesmente nos damos o direito de fazer isso porque alguém já fez isso conosco antes. Que merda de poder de escolha é esse? Que tipo de ser humano é esse que se deixa levar, se deixa moldar pelo pior? Então o meu poder de pensar, raciocinar, não vale de nada. O penso logo existo não existe, se no fim da história acaba-se agindo pelo instinto e o que é pior, pelo egoismo.
O mais interessante disso tudo, como falei é que, nos sentimos bem no papel da vítima, pois é mais cômodo, e faz com que não precise chamar para mim a responsabilidade sobre meus atos.
Se alguém me traiu, será que não fez porque de alguma maneira eu dei motivos? Se hoje eu não confio em ninguém, será que em algum momento eu também não fui digno de confiança?Será que por algum motivo também não sou digno de confiança? Só posso ter comigo aquilo que dou. Se não confio, por que devo achar que as pessoas confiam em mim? Se não confio em ninguém, existe também a grande possibilidade de não confiar nem em mim mesmo. Sera que não cometi atos que fizeram com que aqueles que estavam próximos e me consideravam de alguma forma perdessem a confiança em mim?
É mais fácil julgar, condenar e estipular uma pena, que será aplicada não a uma pessoa, mas a todas as outras com quem eu me deparar pela vida, todos serão culpados pelos erros de um, O velho um por todos e todos por um, usado da maneira mais errônea que existe: por conta de um "fdp", toda a humanidade deve pagar.
Que se estipule uma pena, não é o melhor a se fazer, mas é aceitável, mas que a mesma seja aplicada àquele que cometeu o crime e não a quem não tem nada a ver com a história, mais ou menos a lógica que a nossa mãe usava conosco quando éramos crianças: seu irmão fez arte, mas você vai apanhar também pra não ficar fazendo piada, dando risada da desgraça alheia. Que se dê o tiro, mas que esse tenha seu alvo certo e não se torne o disparar de um ser transtornado e vingativo, uma “metralhadora cheia de mágoas” como diria o poeta, pelo menos teremos um problema resolvido e um canalha a menos na face da Terra, mas como diria o ditado: “ os justos pagam pelos pecadores”, mais ou menos como aconteceu no 11/09. A raiva de Bin Laden era contra o governo americano, mas por conta disso milhares de inocentes pereceram, milhares de vidas que não tinham nada a ver com a história, que não entendiam de artimanhas políticas, se perderam.
Se alguém tem que pagar por algo que, de certa forma eu também colaborei, afinal ninguém é vítima por acaso, por obra do Destino, porque Deus é um fanfarrão, temos também nossa parcela, não de culpa, mas de responsabilidade, afinal, se alguém me prejudicou, me lesou, me magoou é porque eu permiti que isso fosse feito, não dei limites, não dei um basta no momento exato, mas se tem que haver algum culpado por eu ter me tornado um mau caráter em potencial, sim, isso é um traço de caráter, e infelizmente, insisto em dizer, ninguém se torna mau caráter, por esse ou aquele motivo, na verdade a semente já estava ali o que aconteceu é que alguém,mais mau caráter ainda, em algum momento jogou água, adubou e a plantinha cresceu, criou raízes, floresceu, cheia de espinhos e veneno, que somente esse seja condenado, a cada culpado a sua pena.
Como já falei, o ser humano foi criado e isso é algo que só ele tem, com inteligência e livre arbítrio para tomar suas próprias decisões e principalmente, para fazer o que é certo, pois temos dentro de nós aquele sinalzinho de quando as coisas estão erradas, o problema é que na maioria das vezes ignoramos esse sinal que possibilita também praticar aquela outra máxima, que antes de ser um ensinamento cristão, é um código de ética, que já existe desde a época dos antigos gregos " não faça ao outro aquilo que não gostaria que fosse feito a você".
Se alguém me magoou, se isso me fez mal, me fez sofrer, por que vou fazer outra pessoa passar pela mesma experiência? Simples, puro egoísmo. Eu sei que muitos irão falar, mas é difícil não faze-lo, a dor deixou suas marcas, não sou mais a mesma pessoa, não sou mais o idiota que eu era.
Sim, a dor nos modifica, mais até do que o amor, a diferença é que muitas vezes confundimos o não ser mais idiota, com sermos cruéis, não levarmos desaforo pra casa, subjugamos o outro porque um dia o fizeram conosco e mais uma vez não posso deixar de lembrar daquele episódio do célebre livro " Memórias póstumas de Brás Cubas" onde o escravo, depois de alforriado, faz ao seu empregado exatamente o que haviam feito com ele.
O verdadeiro aprendizado está em, apesar da dor, apesar do sofrimento; no amadurecimento, não é não ser feito de idiota, mas saber ao certo o momento em que devemos insistir, parar, continuar. Para que insistir em algo que sabemos que não vai dar certo? Para que insistir em conscientizar mentes que não querem se tornar conscientes? Presas ao seu mundo e as suas convicções.
Agimos errado, quando, não seguramos a mão na primeira agressão, entendamos isso também de maneira metafórica, pois não é só no físico que se agride uma pessoa.
Mas não, infelizmente vivemos num mundo onde, os seres humanos, ou pelo menos a maior parte deles não pensa assim, infelizmente ainda vivemos a lógica do olho por olho, dente por dente, nos dizemos cristãos, e não queira ver nisso nenhuma conotação a nenhuma instituição evangélica, pois todos aqueles que seguem os ensinamentos de Cristo, são cristãos de alguma forma, independente da religião que professem. Jesus Cristo nos ensinou a amar e não disse nunca que esse amor estava ligado a alguma religião, mas ainda sim, mesmo após séculos, vivemos ainda sob a lógica mosaica, que é mais fácil de ser seguida pois é mais fácil ser mau do que ser bom.
Infelizmente aquela fala de Mahatma Gandhi cada vez mais vai se tornando mais real. "Olho por olho, dente por dente, continuemos assim e um dia, a humanidade estará cega e banguela".
Fomos dotados com o poder de escolher, mas na verdade não deixamos de ser escravos.
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