sábado, 26 de junho de 2010

Resposta ao Jovem Werther

Há algum tempo que li o romance “ Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe, ou melhor dizendo, li, reli e treli, se posso usar esse neologismo rosiano.
Confesso que me intriga o final da história, como que uma paixão pode ser levada a extremos, como alguém que se diz apaixonado, pode matar, como alguém que julga amar a outrem pode matar a si próprio, você pode achar que sou fria, que nunca, me apaixonei realmente, mas não penso que a morte possa ser a solução para uma história de amor ou para a falta dele.
Não vamos tirar o mérito do sofrimento daqueles que amam e não são correspondidos, afinal quando estamos nesta situação, acreditamos que estamos realmente apaixonados, de uma forma quase que alucinada, ainda que lá na frente descubramos que tudo não passou de engano e o que chamamos de amor ou o sofrimento por ele, não passou de um momento de carência, ou ainda da não interpretação dos sinais que a vida e as situações mostravam para nós e que na nossa ilusão nos recusávamos a ver, mas se cedermos ao primeiro impulso destrutivo, que chance vamos ter de experimentar tudo isso? De cometer novos enganos? De encontrar um novo amor? Serei fria demais? Covarde demais? Por não ceder a esse subterfúgio depois de ter passado por alguns momentos tão intensos quanto os vividos por Werther.
Um tanto quanto inconformada pelo fim da história, afinal tenho uma certa tendência a querer mudar os fins trágicos das narrativas, por mim Jesus Cristo, nunca teria morrido, não daquela forma. Romeu e Julieta teriam fugido pra viver seu amor e Werther nunca teria se dado aquele tiro e eu daria até um novo amor ao nosso herói.
Vocês nunca sentiram que todas essas histórias poderiam ter outro final, nunca sentiram essa vontade, ainda que saibamos não ser possível, de mudar esses finais? Pensando em dar uma alternativa a Werther, onde quer que ele esteja é que pretendo escrever essa história.
A narrativa original estrutura-se em forma de diário, o diário de Werther, desde o momento em que ele conhece Carlota, até o em que ele dá fim a sua vida, com um tiro no olho.
Então começo a minha história também em forma de diário, o qual espero que algum dia caia intencionalmente em suas mãos.

Em algum mês de 2005

Olá caro Werther, como vai?
Depois de passar um tempo desesperada, pelas coisas novas que me aconteceram, resolvi procurar ajuda, depois de sofrer, de chorar, de me desesperar assim como você, fui procurar um apoio para que pudesse recomeçar.
Confesso que deu certo, depois de muitas lágrimas, frustrações, enfim, estou livre do que eu dizia ser um amor sem esperanças, descobri também muitas coisas a meu respeito e percebi que realmente era um amor impossível, mas isso não me entristece, pois o que o tornava impossível era uma questão de incompatibilidade, minha e dele, ele, procurando seu príncipe, eu, a minha princesa.
Todos esses acontecimentos me deixaram mais madura, o sofrimento, às vezes, quando bem aproveitado, faz com que a gente aprenda, amadureça, mas não pense com isso que quero ficar sofrendo sempre, não sou adepta da auto-flagelação.

02 de maio de 2006

Bom dia Werther, como está?

Como havíamos conversado, hoje comecei no meu novo emprego, muitas novidades, função nova, pessoas novas, novas impressões e sensações.
Como também já havia te contado, descobri, ou melhor, deixei fluir um novo lado meu que me abriu as portas para novas oportunidades.
Conheci Isabel, uma colega de trabalho, confesso que estou empolgada, ela despertou um sentimento novo, uma vontade de construir coisas, com ela a meu lado sinto que posso ser o que eu quiser, mas como dizer isso a ela, que quero que fique ao meu lado, que ela é exatamente tudo que esperei de um relacionamento, afinal, ela não sabe da minha orientação sexual, além disso, trabalhamos num mesmo lugar, não me sinto à vontade e tomar qualquer atitude em relação a ela, estou na expectativa, se não acontecer nada até o final do ano, encontrarei uma forma de me declarar para ela.

26 de Junho de 2006

Olá, querido amigo Werther!

Acabo de me mudar de residência, e de cidade, já sei o que vai me dizer, são muitas mudanças ao mesmo tempo. Realmente, está sendo difícil, tenho que acostumar meu corpo e meu espírito e essa nova realidade, acordar mais cedo, pegar ônibus para ir até a estação de trem, nunca precisei fazer isso, onde morava, o acesso era mais fácil, não dependia de ônibus para nada.
De tudo isso tiro uma coisa boa, estou mais próxima de Isabel, aos poucos vou me aproximando dela, já conversamos mais e sempre que ela chega ao trabalho, arruma um jeito de vir me cumprimentar, como a dizer: Estou aqui! Será que vejo coisas, ou é possível um futuro para nós?

10 de Julho de 2006

Olá meu amigo!
É com grande prazer e alívio que te escrevo mais uma vez, e desta, confesso que as coisas para mim não estão nada bem, vivo um inferno no meu trabalho, fazendo o que não gosto, mas que me propus a fazer durante algum tempo, com uma chefia castradora, que me consome, tremo, toda vez em que ouço meu nome, se pudesse sairia dali, mas não posso. Fiz 25 anos, e que belo presente recebo.
O que me conforta é que ainda posso ver Isabel e seu sorriso e isso me dá alguma alegria.
Numa conversa informal enfim contei a Isabel que estava morando na mesma cidade e ela recebeu a notícia surpresa e poderia até dizer eufórica.
Por ter muito trabalho, em virtude das exigências da chefia, tenho saído de lá sempre mais tarde o que faz com que agora, às terças e quintas-feiras, tenha companhia para ir embora, isso mesmo, estou voltando pra casa na companhia de Isabel, um detalhe importante, o pedido partiu dela.

Agosto de 2006

Continuo indo embora com Isabel, vamos juntas até a estação de trem de nossa cidade, de lá, ela vai para sua casa e eu vou pegar o ônibus para a minha.
Encontrei um jeito de me aproximar mais dela, tenho vontade de aprender a jogar xadrez e ela sabe como jogar, aproveitei que ela iria treinar algumas crianças e pedi que ela me desse umas aulas.
Foi difícil acompanhar a aula, não conseguia me concentrar, pois não parava de olha-la e admirá-la.

20 de Setembro de 2006

Estou indo novamente para meu “maravilhoso ambiente de trabalho” e quando chego lá, eis que recebo a notícia de que havia sido transferida.
Aceitei tudo passivamente, afinal, qualquer coisa seria melhor do que ficar ali, a única coisa que me aborrecia era ficar longe de Isabel, mas peguei o número do seu celular e com isso pudemos trocar algumas mensagens.
Abril de 2007

Mais um ano se foi e enfim tomei coragem para falar com Isabel, isso depois de uma mensagem que recebi dela que me encorajou a tomar uma atitude “Espero e desejo que tenha um dia maravilhoso”.
Depois de muito analisar o conteúdo da mensagem e lidar com a minha insegurança, resolvi chamá-la para uma conversa.
Não consegui dizer muita coisa, mas disse o que interessava: “Tenho um carinho muito especial por você”. Ela não se surpreendeu, disse que já desconfiava, mas, que tinha uma namorada e não me deu nenhuma esperança.
Depois disso conversamos mais algumas vezes e trocamos mensagens em nossos aniversários, mas nada mais profundo do que isso.
Resolvi não insistir e deixar a vida se encarregar de dar um fim a essa história.
Iniciei um relacionamento que também não deu certo, tive um encontro de uma noite que também não foi adiante.
É claro, não vou dizer que tudo isso não mexeu comigo, mas não a ponto de querer me matar, pois acredito que a minha vida valha mais do que qualquer dor que alguém venha me causar.
É esse o recado que queria dar a você querido amigo e espero que tenha chegado a tempo, principalmente depois de nossa última conversa, na qual te achei bastante deprimido.
Só te peço uma coisa: se ainda assim, depois de ler todas essas coisas, ainda quiser morrer, não esqueça de se despedir de mim.
Abraços

Ana Paula

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